Defesa informou que pedirá o afastamento de Bruno França, que entrou na casa, em um condomínio de luxo de Cuiabá sem mandado judicial. Os advogados da mulher também afirmam que ela não havia sido notificada sobre a medida protetiva.

A mulher detida pelo delegado Bruno França, da Polícia Civil, em um condomínio de luxo de Cuiabá, contou à TV Centro América nesta quarta-feira (30) que ele apontou a arma para a filha dela, de 4 anos. Ação foi motivada, segundo a Polícia Civil, pelo suposto descumprimento de medida protetiva contra um adolescente de 13 anos, enteado do delegado. Ele não tinha mandado judicial permitindo sua entrada na casa da mulher.

As câmeras da casa da mulher registraram a ação policial, realizada na noite de segunda-feira (28). As imagens mostram França bastante agressivo. Ele arromba a porta, manda que todos deitem no chão e, em determinado momento, diz que vai explodir a cabeça da mulher. A menina grita e pede que parem com abordagem.

“Minha filha tem 4 anos e ele gritava demais ‘vou estourar a sua cabeça’. Meu marido pedia calma e minha filha pedia ‘por favor, para tio, não faz isso’ e ele falava ‘manda essa menina calar a boca’ e apontou a arma para ela. Ele foi agressivo”, contou a mulher, que não quer ser identificada.

Procurado nesta quarta-feira (30), o delegado Bruno França informou que não se manifestaria e aguarda posicionamento da Corregedoria da Polícia Civil.

Em nota enviada à imprensa na terça-feira (29), o advogado de França, Diogenes Curado, disse que a mulher persegue o enteado do delegado e comete agressões verbais e ameaças físicas em locais públicos, como quadras de esporte. Afirmou também que a última agressão aconteceu na noite de segunda-feira (28) e que “na condição de autoridade policial, pediu apoio de outros agentes de segurança e, tendo conhecimento da medida protetiva expedida pela Justiça, efetuou a prisão em flagrante”.

Até o momento, a corregedoria comunicou que tomou conhecimento da conduta do delegado e vai apurar os fatos.

‘Ameaça o tempo inteiro’

Delegado armado invade casa de mulher à noite em Cuiabá — Foto: Câmeras de segurança/Cedida

Delegado armado invade casa de mulher à noite em Cuiabá — Foto: Câmeras de segurança/Cedida

A mulher contou que, no momento da ação policial, fazia a filha dormir e assistia à televisão, enquanto o marido fazia uma sessão de massagem.

“Ninguém entendeu aquele absurdo. Foi uma cena de terror, ameaça o tempo inteiro. Nada justifica essa agressividade”, relatou a mulher, que passou por uma cirurgia recente na mão e está com drenos.

A família morava em outro condomínio, onde o filho de 11 anos passou a ser agredido e a sofrer bullying por crianças do bairro – entre elas, conforme Pouso, o enteado do delegado. Por isso, decidiram se mudar.

“Fiquei em desespero e meu marido deu a ideia de mudar de casa, porque a gente não aguentava mais. As famílias foram notificadas e ninguém veio falar com a gente. Meu marido conversou com alguns pais sobre a situação e alguns entenderam. Antes de acontecer isso, eu vi vários episódios de xingamentos, de empurrões. A vítima é meu filho e, agora, minha filha de 4 anos. Ela está sem dormir”, disse a mãe.

O delegado alega que, mesmo morando em outro lugar, a mulher perseguia e agredia verbalmente o enteado.

Medida protetiva

A ação liderada pelo delegado, que estava acompanhado de três policiais da Gerência de Operações Especiais (GOE) armados com fuzis, foi motivada pelo descumprimento de uma medida protetiva contra a mulher, que não pode se aproximar do enteado de França.

A medida protetiva para o adolescente foi emitida no contexto de uma investigação conduzida pela Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, segundo o governo estadual.

Porém, o advogado que representa a família da mulher, Rodrigo Pouso, alega que nem ele nem a cliente tinham, até então, sido notificados sobre a determinação e nem conheciam o teor dela. No processo do caso, consta um oficial de justiça tentou notificá-la no condomínio onde eles moravam antes.

O documento, segundo ele, se aplica na escola e no condomínio do enteado do delegado, de onde a mulher já se mudou.

“Alguém trouxe esse menor [no condomínio]. Como cumprir uma medida protetiva que ela não tem conhecimento e no condomínio onde ela mora? Quem errou foi quem trouxe o menor no condomínio. Quem não era para estar lá era o menor”, diz o advogado, que informou, também, que vai pedir o afastamento do delegado e processá-lo por danos morais e materiais. “Foi um trauma irreparável à família”, justificou