O aumento no preço das carnes não tem dado trégua aos gaúchos em 2021 e o churrasco segue cada vez mais caro. Todos os 10 cortes analisados em levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tiveram alta no primeiro trimestre deste ano. A pesquisa leva em conta o valor médio encontrado em açougues, casas de carnes e supermercados do Estado.
Um dos cortes mais assíduos nas churrasqueiras espalhadas pelo Rio Grande do Sul, a costela é o que apresenta maior variação de preço entre a primeira semana de janeiro e a última semana de março: o quilo chegou a R$ 43, em média, elevação de 10,3%. Um ano atrás, o estudo do Nespro apontava valor médio de R$ 23,10. Ou seja, em 12 meses, o incremento vai a 86,1%.
Na sequência aparecem a maminha e o entrecot, ambos com alta de 7,5% no primeiro trimestre do ano. Entre as carnes com menor reajuste estão aquelas consideradas nobres e que costumeiramente figuram entre as mais caras, casos da picanha (1,1%) e do filé mignon (1,4%).
O coordenador do Nespro, Júlio Barcellos, lembra que a alta generalizada da carne bovina, ainda que em menor patamar do que os reajustes praticados em 2020, reflete movimentos verificados na pecuária nos últimos anos, como a menor oferta de animais para abate e a forte demanda de exportações.
— A produção na pecuária é de ciclo longo. Tivemos a estiagem no ano passado, que afetou a engorda do gado, e o rebanho já vinha se reduzindo nos anos anteriores por conta de crises de preços aos produtores. As áreas de soja e de arroz ganharam mais espaço também neste último ano. Tudo isso altera a matriz produtiva — salienta Barcellos.
A redução na oferta de gado para abate é verificada também em outras regiões do Brasil, o que diminui a oferta de carne que chega ao Rio Grande do Sul. Como reflexo disso, o preço da arroba do boi gordo no mercado de São Paulo ultrapassou a barreira dos R$ 300 neste ano, um recorde histórico. No Estado, a cotação do quilo vivo se mantém firme acima dos R$ 9, maior patamar já atingido.
Demanda
As exportações aquecidas, motivadas pelo dólar ao redor de R$ 5,70 e pelo apetite da China, também ajudam a explicar por que a carne bovina vem subindo. Nos dois primeiros meses de 2021, o Rio Grande do Sul exportou 10,9 mil toneladas, salto de 24% em relação a igual período de 2020. Com isso, o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, nota que a oferta junto aos fornecedores está menor que de costume.
— A situação cambial levou o preço dos alimentos a outro patamar e, infelizmente, o poder de compra do consumidor está menor. A exportação diminuiu muito a oferta de carne no Estado e o consumidor acaba pagando esse preço — diz Longo, que, diante do cenário atual, nota maior interesse do consumidor por cortes suínos e frango.
A partir deste mês, o Rio Grande do Sul entra no chamado período de safra, no qual os abates tendem a se intensificar e a oferta de carne bovina deve aumentar. Neste sentido, o coordenador do Nespro avalia que a expectativa é de que os preços se estabilizem, ao menos, até maio.
Por outro lado, Barcellos lembra que o início do pagamento do auxílio emergencial, que começa nesta terça-feira (6), pode impactar a demanda pelo produto e influenciar os preços nos próximos meses. Isso porque o benefício é utilizado pelas famílias, principalmente, para suprir as despesas básicas com alimentação.
Como atenuar a alta dos preços no orçamento
Com a trajetória de aumento no preço nos últimos anos, a carne bovina se tornou um dos itens mais pesados no orçamento de muitas famílias gaúchas. Ainda que os preços tenham sido reajustados no varejo, algumas medidas podem fazer com que o consumidor consiga economizar na hora de comprar peças para o dia a dia ou para o churrasco.
A economista e educadora financeira Janile Soares salienta que é importante que o consumidor pesquise os preços em diferentes estabelecimentos antes de comprar.
— Às vezes a escolha entre comprar em açougue ou no mercado tem uma diferença de valor — destaca.
Outra dica é procurar ficar atento às promoções dos mercados. Geralmente, os estabelecimentos definem um dia específico para a promoção de carnes. Concentrar a compra nesta data também pode ajudar a atenuar o impacto do aumento dos preços no orçamento, lembra Janile.
Fazer o planejamento prévio e ir às compras uma lista definida de alimentos é importante para que o consumidor saiba se o que ele está adquirindo cabe no orçamento. Caso a carne vermelha siga pesada nas contas domésticas, a economista lembra que uma alterantiva pode ser migrar temporariamente para outras opções de proteínas, como frango, suíno e ovos. Além disso, há pratos vegetarianos e veganos que podem oferecer opções similares à textura da carne, seja com frutas, legumes ou proteína de soja.
Fonte: GZH